quinta-feira, julho 29

panamericana

blocos cinzas avenidas
mãos ao alto mar de asfalto
aviões descolam minutos
tantos anos idas e vidas
mas continuas cidade
retém este corpo
de saudade outra
que não se pode visitar

quarta-feira, julho 28

noiteconcreta

é quando se aperta assim e sente aquele perfume no sulco do casaco: pra não mapear a fisionomia toda narinas, mantém o sumo dos olhos esquivos sob um caminho. os ouvidos não prestam para a melodia dourada. é quando se aperta assim e sente que nada.

walkie-talkie

às vezes, uma vontade de conversar com um qualquer, sentar e esperar com as letras flutuando nos olhos, para que aconteça um oi e um pedido rouco, um café e três curiosidades que não não precisam ser saciadas: só um pouco de prosa na pausa do teu mundo.

sábado, julho 24

intransitivo

é a meiguice nos olhos, a pele que salta sob o brilho do suor, as duas meninas que sambam na escuta, a voz após uma interrogação rouca, uma abertura uma brancura um sorriso

te transpiram no dorso da mão e inflo o corpo de ar

quinta-feira, julho 15

a quinta nota

é a coisa mais ridícula
tá fosco melô
anão de jardim
vira e mexe
enrola rocambole
e a rosa entre dentes
quantas letras roubadas
se desmaio na tua seresta?

as sete maravilhas

porque as sextas são difíceis
porque são noites ardidas
porque no hay vino
porque o mel dos olhos mentem
porque não sabe o que é wirklichkeit
porque viver realmente perdura
porque as respostas perdem perguntas

domingo, julho 11

freeing the body

Um jeito de jogar um pouco a cabeça quando anda, um balançar ligeiro no mover das pernas enquanto os olhos enlaçam o horizonte, isso sem falar da fome de comer as letras lusas: eis o efeito da cruz branca sobre o vermelho de tantos anos.
E ainda diz que o desejo não é uma pergunta à tira-roupa.

ouro falso

como se fosse vento
lambendo lugar
madrugando vidas
lá e cá
com olhos abertos
sorriso em bolero

(teus dias de ontem)

sexta-feira, julho 9

A-Z

Liebe auf den ersten Blick:
somente os dois beijam
a mesma língua

quarta-feira, julho 7

old clothes

rever o que fora escrito e o deixado de fora, encontrar tantas passadas paisagens curvas na estrada, saber que foram trinta e sete dedicadas ao nome, cada uma pequenina, sem alarde, em chegada mansa, tudo pra não dar na mancha da última letra, naquela onde mora o fruto de um bendito você.

par lui, mesmo

tá deixando de escrever porque vem achando as letras imperfeitas, mas disso ele sempre soube. só que agora tá cansado do cio, é chique pertencer ao ciclo seco dos que não escrevem, até mesmo é um ato de generosidade e bom-tom. mas o samba que tá tocando é outro, não dá pra segurar: é aquele explode coração.
ele volta.

do lado de lá

esse naco de fenda
onde se põe o dedo no laço
essa parte essa brecha
não escorre entreaberta
mas abraça embaça e ama
amar