segunda-feira, novembro 9

o que sobra do escarro

os retratos não portam mais os rostos
as descrições não acalmam as perfídias

alegorias e adereços

forro de tule drapeado
sambando em finas porcelanas
tela cristalina a cada deslize
de uma luz tensa e amarela
em fuso horário padrão do pacífico

mesmo com a pronúncia do fim
sobre o negrume do chão
em balada almejada

há uma curva presa
na perna estendida
o dedo tíbio apontando a chama
um lado de dentro com duas saídas


vuelto

um lance de fados
soda limonada se desfaz
como sumo da boca

mais um vento do norte
sopra forte todo dia

um chiado assim
maciço

sopra no corpo
a velha visita

segunda-feira, fevereiro 4

enquanto

sim
voltando para mais tarde desaparecer
não saber mais uma vez
quanto tempo irá durar por aqui
mas morde o regresso com sabor de fruta madura
enquanto lhes restam os dentes

é outra de lá

agora
sempre que pensar
nos pedidos d'além-mar
um jeito de se criar
elos afetos e rumos
diferentes a cada dia

ativar sorriso interno
encarar o frio de rotina

o silêncio em tarde solitária
de vento calado
alegria sem partilhas

tirando proveito do pleteio
em oferenda de vida
na crina de si mesmo

Atlântico (é das antigas)

dentro
coloque a mais brilhante
e lance ao mar
até lá
pode ser que mude
a cor de céu
a ordem dos dias
o rumo do prumo
das linhas do afeto
lá pode ter um
cresça e apareça
e o nada mais seja
uma simples foto solar
esquecida em gaveta

terça-feira, março 27

ao contrário do que ele poderia supor

não me venha me falar
dos riscos nos discos
do secreto de todo o mal
cabeça é dor em máscara branda
ainda que a testa abrace
pinturas brutas de prata
e rusgas de lutas nos olhos
não tenho vapor de sopro
não tenho seu barato fatal
então rasgo esmago confesso
um verso uma nota um dó