domingo, fevereiro 28

ao pé do ouvido

agora que tudo dorme e o mundo chove, ele pode dizer baixinho: "madrugada, teu nome é saudade".

oferenda

Sim, ele está
perambulando
feito rosa rubra
lançada ao mar.
Uma pétala em
cada continente,
sozinha mas inteira
do existir de
um entre
tantas metades.

sábado, fevereiro 27

28

em janeiro
um rio de sangue
feriu-se em meu corpo
feito pacto de carne
sobre teu horizonte belo

ele ainda jorra
desagua inflama
percorre teus vales
inunda teus vinhos

são letras coágulos
tua minha nossa vida
em derrame sempre
por um perene sim

countdown 2

No quinto mês, faça com que tudo dure muito tempo, peça para que as ruas desaguem recantos e novidades, com sol nas pessoas e no toldo dos cafés, para que os pés prolonguem terras, para que se tenha rosas água fresca e regaço, faça um pedido com toda dor com toda alegria, para que tudo pare. E floresça.

tracking

turn on the music player
and play it again, Sam
melody billie diana
banda sonora
música de fundo
duas distâncias
e todo aquele jazz

quinta-feira, fevereiro 25

collected call

botar o bloco da rua
e falar por 500 minutos
imaginar a felicidade
seu mundo
do outro lado da linha
ser mestre na sala
onde se importa
sua bandeira
beirando ternura
sobre a língua
que te cabe morta
neste latim fundo

respondendo cristina

por que fala de concentração
se há mar não se concentra?

quarta-feira, fevereiro 24

PS:

Ele vem publicando tantas coisas tantas vidas que o santo do lado de lá até desconfia.
Mas não há o que temer: é tudo tão simples quanto novos ares em perpasses antlânticos.
Agora és cavalo das palavras mal ditas.
E medita.

overture

gerir o secreto, no fundo do fundo, ser raimundo e expelir vastidão, traçar uma linha entre os que pulsam, ser pão e água a todo gás, inusitar sem hesitar de esperar, escavar um dentro no ar, inflar e concentrar toda ternura e dizer:

alguma revelia

São tantas peripécias deste tempo que rumina, que não move cirandas, tantas pedras no caminho que ele pergunta: e agora?
Vá ser Groucho na vida.

apêndice

não leve a mal
as palavras são traições
pesam carregam
mandam e desandam
a tela as letras as pausas
pintam e bordam
infla ricocheteia inflama
o zunido qualquer
onde pensa encontrar
você

terça-feira, fevereiro 23

embarque doméstico

que retorna
que engana
que engasga
que distorce
que recua
que menstrua
duas letras
sob as tetas
dele

calendário

se descansa sobre a tela
a maquiagem e o espelho
os olhos e a mãos
se repousa sobre as letras
as sobras do tempo
é porque há vida
atrás da porta

segunda-feira, fevereiro 22

[sem assunto]

Sempre esta montanha russa bate volta rounding in circles, sempre este ritornelo o refrão da canção espocando a cabeça, sempre este cd esta imagem cedendo as fibras os ossos
os destroços as ânsias.
É hora de virar o disco.

happy end

Vá ao lago e veja os cisnes enquanto lê, assista o filme: lá estarão os olhos que te olham enquanto dorme. Escolha o vinho e coloque duas taças: em uma delas sorverá boca e segredos, a saliva do desejo. Pendure dois retratos na tela e faça uma reza púrpura do Cairo: para que ele venha sorrindo branco, avançando, lutando, arrasando aos poucos a infelicidade.

pacto

não tenha medo, baby
cansei de ser kamikaze
quero flores no vaso
dois pratos dois copos
chaleira e café quente
cinema aos domingos
e promessas de amor
nas manhãs de segunda

domingo, fevereiro 21

cisma

quando se vê um rosto três vezes em um mês
e não consegue sair da sua cabeça há três semanas
é porque hay perigo, chico
de joelhos sobre a palma da mão

countdown

o outro lado da cama é deserto
um onde cabem dois
sem dessert sobre a mesa
o retrato dele segurando as paredes
pra não desmanchar o ninho no outro
em desmundo caminho de volta
a um par de braços

sábado, fevereiro 20

kitschiger Roman

ontem não teve palavras no papel, somente balbucios pra si, arrancou o fio do telefone e meteu a cara no travesseiro, saiu mas não olhou pra rua, vestiu o papel de zumbi e ficou na sua, totalmente sua, sem vitrola, blues e biquini, só curtindo ficar na sua, sem o cabernet sauvignon azedo na geladeira pra não atiçar fogo no corpo com álcool, curtindo as tuas fotos no ácido da lágrima. Ontem.

dois pra lá, dois pra cá

tranque e jogue fora as chaves da casa, segure a partida do trem, leia aquele trecho mais uma vez, do cárcere mande sinais de fumaça, não chegue na hora marcada, sorria e aceite esta dor bolero de esquina que tu me acostumbraste.

quinta-feira, fevereiro 18

a quarta foto

você
estará em azul
nada de blues
olhando no fundo
no fundo dele
braços sobre ombros
sorriso em suspiro
o crime perfeito
sobre um coração
assaltado aos pulos
sob a espera
de um happy ending

quarta-feira, fevereiro 17

ato fálico

Ele manda uma carta e diz estar perdidamente apaixonada. Este feminino do amor que no homem burla a escrita e grita.

AW:

Este berne de distância que carcome duas peles, sistema de mensagens secretas, é a voz do lado do outro aliviando perfurações, rasteja saudade pequenina, lívida, torpedo em flor,
quando você lê enlouquece me mata e deseja neste beijo de letra em discagem direta.
Sem nada cobrar.

quarta

a manhã desagua em ipanema
sem sal e lágrimas do fado

entrega à beira do azul mar
toda a ressaca de uma dor

de alma lavada enfim

duas gaivotas
um sobrevoo
uma promessa
tua minha
prece

terça-feira, fevereiro 16

tarde número dois

acorde meu arlequim
envolto em serpentinas
lance perfume tua terra
vem brincar neste peito
em vereda tropical
para que tudo seja
antes das cinzas
para morrer
e renascer nesta quarta
no ardor desta carne
sempre viva
sempre sua

segunda-feira, fevereiro 15

o primeiro dia

agora
deitado
enquanto a brancura
domina porta afora
e aqui
estado de alerta
amargo tropical
um até breve
retido na língua

(ai esta melody guardada
neste nosso blues)

step by step

Contar os dias, mirar fotos e escrever no caderno. Foi dada a largada: toma um expresso pra ver se acorda e amarga a vida no gin. Embota a lágrima porque agora não pode chorar, por dentro tudo treme, o trem passa em coração. Estão ali os trilhos os risos as três despedidas. Suspira e deixa sangrar.

domingo, fevereiro 14

respondendo

sim, é nosso
e você se concentra:
eis a ternura

mantra

ele come você
ele pensa você
ele bebe você
ele sorri você
ele canta você
ele chora você
ele estremece você
ele morre você
ele grita você
ele irrita você
ele dorme você
ele olha você
ele molha você
por dentro
e vive

conexão

Ele olha o céu à noite atrás de você, príncipe dos ares, pensando o que se passa em sua nave enquanto ele, na terra distante, suspira todos os ais em pleno domingo de carnaval. Os atlânticos atravessam o peito enquanto cruza o breu e a última letra. Não adiantou a fantasia de vampiro, nem mesmo o choro do pierrô atrás do Ray-Ban. Mas um dia haverá um pouso um porto um lugar para chamar de dois.

sexta-feira, fevereiro 12

mantra

ofereça a mão, conte coisas bonitas, ensine o verbo intransitivo, diga que a rosa arose em seu peito, amanheça boca, anoiteça pele, e deixe que tudo seja.

saída de emergência

coloca tudo na balança, remói os acontecimentos e se retorce, olha o redor extenso com ar cansado e respira, respira fundo, mas o calor que toma a cidade não deixa com que recolha a neve nas narinas, pois o que resta é transpirar o perfume da distância e pedir alma, calma aos navegantes. Mas ele está aprendendo a nadar.

sofia

baby, só vale a pena esperar
quando tudo está perdido
entre as tintas dos dias
em um sobrevoo sem par

quarta-feira, fevereiro 10

surpresa

cada letra um presente
papel celofane fita de cetim
caixa colorida feita de cartão
onde se escreve em dourado
sob cada dia deste verão teu
esperado nome
tua ternura

may

regar as plantas
usar teu perfume
olhar retratos antigos
e colher memórias
deixar barba feita
o frango sobre o fogão
uma música ao fundo
ao ler a sombra do vento
sob a contagem dos dias
fazer uma lista uma vida
ficar desarmado inteiro
pra quando chegar
você

terça-feira, fevereiro 9

segundo capítulo

tudo dominado revirado pelo avesso na pele do verso tatuando cortando de dentro pra fora pra você chegar domar um peito agora seu derretido no calor das horas e das noites em verão quando a saudade chega antes de acabar este passo de dois ardido sofrendo em desejo de um hasta la vista (um coração pra amassar)

quinta-feira, fevereiro 4

GIG

Sim, é para você quem se delicia com a carne da letra, quem nada pede a não ser o presente e a presença a cada dia, quem repete o mesmo com um sabor diferente, quem dá o laço sobre o desejo no ar. Sim, é para você quem me dobra por aqui, vira e revira minhas páginas nativas.
Carpe diem.

quarta-feira, fevereiro 3

a lei do mais fraco

mesmo que seja a última letra do mapa, o espaço finito de teu alfabeto onde isola às claras as neves, mesmo que seja a jornada em dias finais dos encontros olhos e promessas, mesmo que o território deixe traças e rastros sobre os corpos, mesmo que as fotos sejam a única saudade dos janeiros, mesmo que seja o teu primeiro ai de uma melodia guardada, mesmo que um gozo uma alegria não aplaque distâncias, mesmo assim, ainda sim fica na retina da pele um pulôver rosa.

quarto dos fundos

se falo e escorre
lençóis e suores
em sangue
se morre
a cada nome
que se chama
é fogo insone
em nossa boca
noturna
e inflama