quinta-feira, maio 28

está na hora

agora é o passo 36
mais 365 dias
se ele puder

um ponto

apagar tudo com todas as forças, não deixar vidas nem rastros, descer a borrasca lavando os passos, a mais pura vingança contra os dias, aniquilar cada grão e as suas poeiras, assentar um vazio e o deserto, um nada pra ninguém, rasurar sem olhar pra trás, extinguir com mais tinta, contaminar o fundo com o surdo eco
deste derrame

segunda-feira, maio 25

the after (e uma música ricercata)

ressaca de saudade é a pior que existe: amarga goela adentro e deixa maré nos olhos, vai e volta com toda a fúria tim tim por tim tim, assim infantil assim despretensiosa como a fala rocambole coberta de juras úmidas em máscaras nacaradas, onda devoradora arrebentando o peito e dedilhando momentos sem o agora pomposo e titânico
não é só você quem abre braços na proa da nau

domingo, maio 24

um simples

ele queria tanto ter você no eterno de cada dia, mas isso seria um religar e uma repulsa porque ele quer o mordiscado da vida que a hóstia evita.
ele queria teu perfume aos domingos para inudar a fala mansa dos olhos contornados em grafite porque você quer tua escrita no topo daquela pele inacabada.
ele queria
e você

II Ching

o azul do crepe saboroso em camisa chinesa
no quadrado vermelho transborda o saquê
e as perguntas que ele se faz em você
se os pensamentos te excitam as formas
irrigando as cavidades de tuas cavernas
você se obliqua e mostra as garras macias
que ele devora devora em tuas delícias
mas por que não se entrega?

concerto

voltar ao lar com a alva parte sob o tocar de sinos
dois cafés e um libreto dos olhares não prescritos
no hay culpa porque nós não trabalhamos com ela
as cordas em trio regem a dupla e um todo enlace
os afinos dos ouvidos na ciranda da última quadra
e retorna o tema da chegada de tua presença aqui
não tem um sofrer porque lá não se produz chagas
é só dor

segunda-feira, maio 18

fábula

Tem palavras que se transa com a boca: fissura rombo oco buraco ranho arreganho perna aberta e o que for de baixo calão. Parece que tem mais vida ali, naquelas aberturas em esfrega esfrega no cio do que no tempo que ele perde contigo.
Pois é: sem gasturas não existem ganhos.

na hora HH

agora
me fode com o céu azul
rápido

0800

Você já conseguiu olhar para o sexo dele sem culpa? Alguma vez percebeu o desejo em volume macio, repousado sob as roupas, sem qualquer soslaio? Tente imaginar o intumescente, sim, essa palavra luminosa que resplandece entre a carne das pernas, um delicado recheio que detém o silêncio dos teus olhos. Que te acometa a lascívia da água na boca vulgarizada, aberta para o deleite em jorro clandestino. O membro escorre, a língua escorre, as lágrimas escorrem.
Você transborda.

nada consta

ele vem publicando bem pouco de uns tempos pra cá, às vezes se pergunta qual a função de tanto escrever, e se descobre fraco, ainda derramando letras quando dá na teia, sem discplinas para surgir uma frequência de lápides e cristais da palavra, ainda muito verde muito romântico muito no campo das idéias ainda com acento, que poderia talvez aplacar em horas britânicas,

ele se pergunta porque continua esperando um comentário
seu

transa

Me torno o cavalo do teu santo dia e entorno o verde pasto profundo no dentro.
As letras dão pinote e rocamboleiam na reta do ar sobre cabeças feitas.
Corpo no tremular gozoso no suor risonho de tua homopietá
palavra boca a boca que nesse caderno não se possui nem reproduz
o estéril de todo o prazer.

terça-feira, maio 12

como era gostoso o meu

O que chama atenção é o teu antebraço sempre quando empunha a ponta da caneta. Os pelos escassos nas costas do pulso e distante das unhas quadradas. Mesmo não sabendo qual é a sua letra, as escritas no secreto do corpo sobre elas debruçado já promove um discurso de puro requinte. Não há como não se intumescer ao deixar o imaginário no caminho de tuas vergonhas.
Um só invadir.

N.T.

Porque o verde não se dissipa, por mais que não pronuncie a tua palavra. Um todo interrogativo pula e espoca no ar. É manteiga quente em pedaço de pão e vinho sorvendo teu suspiro.
Na conta da língua.

domingo, maio 10

conexo

Acabou de mandar um email e diz que se sente um patinho feio.
No meio de outros tantos.
Leste latino e américo sem o eu da roupa de tua europa.
Veio pra cá por causa de um espelho.
Avisei pra não vir. E nem pra te ver.

tram

qualquer comentário vira um zero
buraco fumaça halo branco
a minguada íngua da língua
ele não se sente estranho por lá
é tudo muito e um pouco nada
esquiva pontuda na letra da zebra
você se prepara porque ele vem pior
com um zero a mais na sinistra

Vrbik

a grama verde e alguma macedônia
onde o pingo do i tem a curva do j
e uma mentira
onde o feio mais belo é um cinza todo belo
de abertura santa
e uma falácia
o circunflexo caído
no meio de você

domingo, maio 3

unheimlich

tudo pronto para amanhã, da mais louca alegria
mas sem força recobrada na noite do leste onde
a bruxa desponta com os números do bilhete
da sorte grande.
ele aperta o sinto para a própria segurança
levanta a estima num vôo
antes que a asas derretam
sobre você.

sexta-feira, maio 1

(esta página fora arrancada)

os ossos retornam sem cerimônia após cinco anos sem as suas visitas, um todo clavícula que invade o quadro maior e maior quando a luz se abaixa, extendido no tempo sem pausa para o respiro de antes e que retoma o ontem de hoje, confusão espelhada em queda encenada
neste baú.