quinta-feira, outubro 29

dolce

melhor como está
sem dor
ao menos uma
única
sem bis

assim fica
uma fratura
pra sempre
do meu no teu
sim

SOS

Sei por que se foge, tá na cara por que evita: as coisas ficam de pernas pro ar, bambas na corda caso o verbo seja conjugado. É por isso que escorre, abafa a respiração, entope a tela com o ausente. Cerca um canto no tempo pra tirar a cara de cena. Espera que se diga e mude o silêncio com uma simples frase que
eu sei, você sabe.

quarta-feira, outubro 28

aquele último

se ela se arranha toda assanhada, sussurrando sonhos de cio, se umedece a língua pra melhor lamber o arreganho da pele, é pra te ter melhor entre suas pernas, sua jaula

to bring you my love

tática

1- segure na mão sem querer
2- olhe firme
3- suspiro pra adoçar o peito
4- deixa sangrar

still

mesmo na distância
ainda que no fim do dia
você se derrete
sem eira nem beira
na espera do lá
com gravidade na voz
sem telefone
e tela de computador

pra que venha
sem alô por favor
antes que o desamparo
amanheça na cara

segunda-feira, outubro 26

ele e B. Dumont

Deixe o tempo passar pra ver se algo acontece.

Escreva e depois esqueça.

isso

Abre a necessaire e encontra os preservativos. Intactos. Cortesias de Zagreb: docinhos de borracha em papel dourado. O que te espanta é o português, o nome da marca: "amor".

ego

não, senhor das alturas
é desejo encarnado
o que te falo não dá conta
é pra você mas não entende

tuas manchas sujam
minha pele feito tinta

esse frescor

domingo, outubro 25

é pessoal

não é que não se pode tocar
é porque se desmancha
o teu mar
que ele sabe de coeur

reply

ainda mandando sinais de fumaça, pensando que as palavras giram em torno de você, uma frase e um tapa na cara, se escamoteia na ferida fingida e se esquiva

não faça a louca, baby: é teatro pro seu bem.

sábado, outubro 24

Babel

comunicação e experiência estética, saber envelhecer, a história definitiva de cinco ou seis anos de David, algumas das tantas verdades para Lisette, as primeiras estórias, a state of wonder enquanto la serpenta canta, um foco, ilustrações da moda de hoje
isso tudo com um pouco de felicidade,

grand finale

cordão se corta no ato
antes que seja o último
seco oco conciso
um soco sem risco
antes que seja armado
o cerco da palavra
de um desejo
há dois

sexta-feira, outubro 23

tour de force

Quase dormindo e você de Ray-Ban. Uma pantera na ressaca de um olhar 3x4. Convite para um passeio sem recusas. Boca cerrada, pontuação precisa. Mas o cabelo Farrah Fawcett não engana a gatunice. Um pires de leite não é suficiente para se desistir da ideia. Calçar as Ipanemas e ladroar palavras para a tua sopa de letrinhas. O que você deseja.

step by step

café, pão integral, meia fatia de presunto e mussarela, algumas páginas de cícero, risos com a amiga belga, cigarro varejo no fim de tarde, assalta tuas fotos no fim de semana, esta falta de merda do que ainda não teve, então quando?

quinta-feira, outubro 22

lista de cabeceira

Esperar aqui mesmo que você não apareça. Procurar o teu rastro, chegar rápido pra ver se te pega no flagra. Tomar banho bem cedo, perfumar as palavras e aquietar o coração. Fuçar as digitais de alguma ternura.

Rua do Ouvidor

Ele anda um pouco piedoso com as palavras, acarinhando de mansinho, botando os panos quentes sobre suas cabeças. Não consegue se dedicar no fundo, são volteios de língua sem embocadura do beijo. É bolor antigo cultivado em cada página. A única valsa que ele sabe dançar. Com você.

quarta-feira, outubro 21

dois pontos

só tem uma dor
uma única dor
só tem uma dor
uma única dor

um vulcão
transborda
o teu no
meu

vice-versa

você tem
aquilo
que quero:

você lê
aquilo
que quer

A no país do espelho

descobriu pelanca no final da polpa da bunda
o bloco do dente samba no céu da boca
respira fundo pra aguentar o trampo da carcaça
levanta ferro concentra forças e flexiona
espanta o medo do ser maravilha mulher

too day

Mais um dia com roupa lavada, estantes arrumadas e café no copo de geleia: as cuecas separadas da camiseta, o livro velho com o novo, duas colheres de açúcar no fundo. Tudo preto no branco.
O tédio dorme tarde com suas delícias.

terça-feira, outubro 20

duas horas

o quanto te consome aquela juventude declarada em cada letra sorridente menino
nos olhos despejada candura sem o rock'n'roll que consome sua fala
melhor se aquietar pra dizer tudo em resposta demorada e vazia
pra manter você por perto com olhar direto
como aquele devorando rastros grisalhos
noites néon teclas risadas idades sexo
mentiras compartilhadas

mistura e manda

de novo aquele mar que interroga imenso e não consegue tocar não se abre em dois pra sua banda passar
enxuga a mágoa e cuida bem de mim

último ato

a cada primavera
um jovem sacrifício
com o peso da promessa
poeiras de outrora

uma dia ele sangra um

quarteto

se ponto a liga b
atenção concentrada
cheiro de carícia
boteco e esquina

segunda-feira, outubro 19

os três cavalheiros

Pela manhã, ele imaginou como seria a queda: um pé do lado de fora e a inclinação do tronco. Sem motivo nem dores, somente a gravidade da ação, enigma puro. O depois dos que ficam e esquecem aquele que fechou os olhos pra esquecer, o amanhã como antes, nenhum alerta.
O que é bom, o que dura morto. E vivo.

Ícaro

André cansou da farsa de escrever. Agora busca algo mais longe dele, um conforto nas letras de esquina, sem volteios e suspeitas. Tudo por causa de um voo turbulento. Chega de cafés, cigarros e cascatas arremetidas.
Conseguir é uma dúvida.

domingo, outubro 18

panorama

o lilás da tarde em fim
sem mais sim do que não
a cidade na primeira vez
do oco vazio
dói só

terça-feira, outubro 13

segundo mandamento

ele fica mais e mais compulsivo na escrita pra ver se te alcança, já que fica impossibilitado do teu toque. talvez aqui neste campo minado ele te envolva numa prosa dissimulada, nas respostas que você sempre pode lhe dar, mesmo que de longe. ele sabe que você finje, olha para os lados pra ver se não vem alguém testemunhar o carinho furtivo que lhe dispensa. talvez aqui seja o límpido lugar dos desejos, da mais pura querença que os corpos limitam no oi dos dias úteis. um além, mas não engane a cilada: ele nunca foi você santo.

domingo

tá tudo cinza
sem tv e pipoca
notável silêncio
em língua empolada
telhado de vidro
de frases feitas
jardim do vizinho
pai de todos
sem bolo nem vela
tá tudo teu

quadrinha de roda

oferecer a cara sem dar as costas
abrigar no ninho outros tantos
que ainda suspiram por um dia
no regaço seu

sábado, outubro 10

a sentença da farsa

tomar conta daquele que te inunda o dia
com palavras de carinho e amor

quinta-feira, outubro 8

a quarta letra

ainda que não saiba quem é você, de qual nada você surgiu e o teu antes, ainda que não saiba o que faz sorrir teus dentes no gosto do olhar, a brancura atrás de um fundo brilhante, o que ninguém desconfia pra quem você fala, ainda que você leia e se surpreenda no final das contas com o débito de tua aparição imediata que sequer suspeita, ainda que você não imagina o sentido que te é dado num lance
o peito inflama:
ponta de agulha na ponta do dedo

quarta-feira, outubro 7

sesta

não venha você com canções e literatura
o mar verde de tua face já inunda qualquer palavra
insuportável no riso nervoso em convite
cadê boleros de esquina e revistas de quinta?
se a oferenda é presa voluntária
por que não mostra teu umbigo de carne?

graphein

se você disser que desafina as letras na tela, que tudo escorre no rodopio do teclado, que a música não trepa nem sai de cima da sua palavra, que as línguas estão mortas no entrelance do beijo, que lava as mãos limpas de tinta da vida,
se você disser que atenção pífia é querença na tua escrita
quem confia?

pancadão

ah, se eu fosse bandida e tivesse uma arma na mão eu dava um tiro na cara pra surgir a mascarada
porque eu tô toda me querendo

ritornelo

menos um dia
mais um passo mortal
atenção aos trapezistas
o sinal está verde
siga o sussurro siamês
olvida o contorno da orelha
sozinho no avanço
tudo é
questão
um state
of wonder

segunda-feira, outubro 5

falável

é um respiro vazio, quando não há mais nada lá, é com tanto amparo em vão, parece que combinou de vir com a camisa verde, agrisalhou um sorriso nos olhos, uma atenção espantalhada, você faz um gesto e você copia, meia volta volver se continua con su corazón, pare antes que tudo faça um sentido, agora

o salto do tigre

com outros foi feliz
mas não sabe ser
mulher

a mulher de Chopin

mesmo no cansaço, um tempo de algo sentir ainda que passageiro. saber a história de coeur não quer dizer que não haja surpresas quando lobo pega o atalho. abrem a porta e te pegam no nada mas que sabe lidar bem, por tantas desarmas. você não dá o início do jogo e retira as cartas da manga. pra não te machucar. poucas vezes solidário na dor.