quarta-feira, setembro 30

filme B

você sabe que assusta, não é fácil encarar uma fama de mau, sobrancelhas fechadas espantam, você também não facilita proximidades. tolice não ser o ninho de um estranho.

favor

se ele te beija o rosto, aperta o ombro e te olha nos olhos, por que não pergunta?

progressão aritmética

a cada dia que passa mais um fio branco desponta na cara e pele do peito. as noites não são mais dormidas e olhos sempre empapuçados. mais fácil ficar irritado e um grande exercício para evitar a complacência. voltou a gaguejar feito criança diante de um desejo muito forte, transpira debaixo do braço direito e o convite para o café na hora errada. e só tende a piorar.

quarta-feira, setembro 23

noturno

Se você estiver agora diante dele, saiba que seus olhos ardem, a mão repousa cansada e a brancura mais e mais profunda. Ele te olha sem medo e com um sorriso repleto de fado. Você, testemunha única desta fala seca de carne.

domingo, setembro 20

nova postagem

por que tantos versos de amor, tanta fala gasta, pura necrose de língua?
quantas voltas pra cair na mesma cilada de tantos.
letras que poderiam gotejar vermelho em cada fonema, no mais puro arlequim.
mas não são tantas assim que aparecem, é sempre a mesma
ciumenta e assassina palavra amada
amante

bilhete para o vidente

algum dia, quando passar a ser interessante pra qualquer um que você não conhece, quando abrirem os meandros e encontrar algo lá, mesmo que seja uma poeira no fundo do fundo. no dia em que deixar de pensar que existe alguém do lado de lá, que te espreita, te rejeita e te quer pra um café bem forte, sorvendo toda a tinta preta amarronzada. quando buscarem o teu nome no vazio da xícara.

sábado, setembro 19

a chave de casa

all this blues during the weekend
is just a little bit of mood
one for him
no one for you

quarta-feira, setembro 16

bio

writing
in another language
his foreign desire
just a possibility
to grasp
some unuttered piece
of him

segunda-feira, setembro 14

canto de página

teach me something wonderful

sexta-feira, setembro 11

Le Bouqueniste

ele ainda é do tipo que manda flores, mesmo sem querer. fica amargando este cadinho de terra alagada e coqueiro, inventa o seu próprio fado em plena madrugada murcha na falta de água fresca. não consegue regar delicadezas nem perfumes. prefere ficar sem fazer. sempre-viva.

quinta-feira, setembro 10

ante-sala

a tarefa dele de hoje é ficar com a alma bem quietinha, no mais puro silêncio branco. manter o olhar no horizonte e deixar o vento invadir na maior pieguice de imagens. não ficar lá nem cá, e isso não quer dizer que ele curta a corda bamba. não atender telefones, não responder emails. hoje ele quer viver no rascunho.

terça-feira, setembro 8

plié

Este teu indizível que não racha não acha o pouso,
no hay documento e nem abanicos do lenço
que acena a cortina que não desce sobre tua cara paisagem,
sobre o silêncio de todo rosto
qualquer.

domingo, setembro 6

uma cena

pensar no íntimo, em algo íntimo feito à distância, muito longe de qualquer um dos olhos.
ser um rei caolho num espaço longínquo.

uma outra cena

A cada letra
uma matança se dá
dedo após dedo
um é eliminado
e aparecem
cem outros tantos
até que um dia
se depare com
um um.

armário

veste a roupa do arlequim
o giro de trezentos e tantos graus
e mais um
losango colorido
galopa cavalo e sua língua
imaturo relincho
teu linho o meu ninho
e o resto é sombra de chão
em terra batida