terça-feira, setembro 28

98, volume 4

é um algo assim, meio vermelho, abafado por dentro, cresce meio assim, aumenta ainda mais, entumesce e fura tanto tanto, um pouco assim, inconveniente e sem convite, depois muda um pouco, ganha muito ar, fica mais quente quente assim, vem acalorando (mas essa palavra é leve demais), ficando úmido e uma cor de vinho bastante escuro assim, volta a crescer dentro, preenche tudo, enche mais e sente mais que tá mais dentro, atravessando o outro lado, a pele desponta a ponta, esgarça lenta, empurra um pouco mais, ele

keepers and killers

sem pelo de braços
mundo dos olhos
ou poros de rosto
um gosto em pele
congelado
na sombra de capa
ao longo das unhas
mão sobra a outra
hora carcomida
um tempo de resto
pulso telégrafo
após estes anos
chegar logo
pagina aberta
esta chaga
boca de letra

suplemento para cães e gatos

não entendeu as letras na ligação tardia
antes fosse um vapor guardado, destilado na curva do piso
ficando ali no querer do nada, para um dia apanhar
interesse renascido, palavras sacanas que aquecem
o acaso do fato, o perigo perdido

pornô

o que é o que fede mais do que uma solidão de merda?

quinta-feira, setembro 23

o livro das palavras

as malas abertas
um cheiro forte
do lado de lá
morada das flores
vestindo de preto
numa dose só um
peito centrifugado
em única tarefa:
cercar o corpo
pra depois brilhar
novembro

quarta-feira, setembro 22

a idade sincera

encomendaram um poema
que fosse breve e sem coringas
uma fossa sem cartas na manga
palavras em arrancos de fórceps
um berro de intrigas caseiras
sem artimanhas de efeito
para ser entregue no último ato
de um encontro quieto
com o teu animal de esquina

TP 185

ele chegou:
um abraço forte de presente
e um pudim de coco na sobremesa
as duas vão bem, obrigado
os livros na mesma fora de ordem
a janela ainda voltada para o azul
e aquele beijo no quente travesseiro

(desta vez
de dentro
o incerto
no corpo)

jetléguas

todo este calor de 36
se a cada quilômetro
a carne esfria?

sexta-feira, setembro 3

Herzschmerz

um bocado de tudo
medindo e abrindo
bem no meio
mas no meio mesmo
um buraco profundo

quarta-feira, setembro 1

opostos

para ficar mudo e vago
ser teu livro de eterna mudança
para ler comer arder provar
pois não há nada no mundo
das coisas que afundam