quarta-feira, dezembro 22

retrato de quarta

a manhã e um brilho azul
família abraça a menina que deixa cair as malas da chegada
o trem com gente de ombros desnudos que pagam dois por um real
calor morno depois de um beijo com ar condicionado
um abraço pequeno sob óculos escuros
que gostam sim de sinal fechado mas atravessado fora da passarela
o sinal verde de um olhar para cima
para te lançar sorrisos no ar
feito benção sem terços e berços
para chegar aí, longe que nada,
um banho de mar na melancolia

terça-feira, dezembro 21

ciranda

agora é brusca
a mudança de ares:
gelo que esquenta
um coração todo verde
claridade amarela
brotando naco de luz
renascendo segundos
na ferida do tempo
neste meio do meio
de tudo que é fundo

quarta-feira, dezembro 15

paisagem, fora

o que quer esta língua
quando a mudez é cansaço
o inferno é claro
e o buraco um inferno mulher
quando olhos são algas
em um mundo todo lua

o que quer esta língua
com asas de rapina
no sobrevoo de uma vida
feita raio de carne?

segunda-feira, dezembro 13

uns poucos dias

ele só quer falar o que não se importa, o que se deixa aberto em um conto primeiro, os meses de fevereiro e músicas estranhas, andar mesmo não conhecendo o arranho da fala que assanha os pelos, acalorando de fora os acontecimentos, um beijo no estado de coisas e corte gelado nos dedos dos pés,
para vir teu corpo e meia dúzia de réis

ensaio

aquele beijo
de samba arranco
queimando rotas
letras feitas
abrindo a língua
no fundo do oco
limpando as cinzas
com toda saliva
a tua palavra
e lava

quinta-feira, dezembro 2

o terceiro ar

este todo branco
que inunda o dia
e as horas macias
afundam segundos
nas solas dos pés
um silêncio que cai
com fome de vida
assusta e atira
um soco no nada
e suspira