terça-feira, março 30

sinfonia

um balão espoca
o transborde de um sopro no ar
estrondo no mais completo silêncio
ficam farrapos no chão, esparsos
e um respiro após a vírgula

segunda-feira, março 29

ouça

não é cela gaiola armadilha
é voo livre leve desprendido
e sem taxas de embarque
é porto seguro equilíbrio obscuro
no cada segundo do mais repleto
almar

sábado, março 27

28.2

duas xícaras
duas flores
um bom dia
uma boa noite
ciao na entrada
idem na saída

são dois nomes
dois finais em um
verbo agudo
um mesmo lado
dois continentes

um instante ímpar
quiçá futuro
de duas vidas
seus dois meses

dois curtas e um longa

mesmo que tenha sido por tão poucos segundos fica impossível se desfazer da carne da retina que tinge horas depois o seio da face enquanto o filme rola solto sem nada enxergar, mesmo que tenha sido meia entrada não faltaram cúmplices para o negrume de corpo inteiro em pleno derrame entre cadeiras vazias, mesmo que tenha sido um frame de uma lágrima sem fama um drama pequeno se fez coágulo tentando estancar distâncias na derme da tela que não entende não entende que se paga pra entrar e esperar não entende que olhos fechados são ponteiros parados na lembrança de um você

domingo, março 21

Von-An

você retorna com o coração aos pulos correndo sobre trilhos ansiosos por estar aqui pra ver se tem algo à tua espera e que diga ter guardado um nome no céu da boca pra ser pronunciado na sua chegada com malas jogadas em pleno desembarque sem qualquer oi e que tudo está very nice so nice
mas agora é uma bossa nova um desaguar outro que as palavras antigas desconhecem -
então abraça o teu esquecer e saiba que

um segundo

Se não dá as caras, como é que ficam os verbos no ar? Se visão é contenção, onde está o silêncio do teu nome?

Quem me dera um verso simples, um dedo, um pacto (deixo para o próximo).

sábado, março 20

comentário

notou que ele espera a coruja colorida?
as letras passam correr mais soltas quando no escuro
quando não há tantas pretensões de se fazer entender
ele sabe que o caderno se perdeu sobre as linhas noturnas
incendiando negrume sobrevoando pastos e postagens
publicando palavras em disfarce de íntimo
o endereço é certo, somente ele pode entender
o que se passa entre duas sentenças e o peso de uma vírgula

farsa

ele toma uma cerveja ri com os amigos come uma torta de frango olha para desconhecidos acende o cigarro com o isqueiro emprestado sorri para a cachorra que rosna desce o elevador e sofre: ainda restam muitos dias

quarta-feira, março 17

à parte

Ás vezes este surto compulsivo dele escrever o mesmo tema, ficando obsessivo com a imagem dele que invade a trilha dos segundos. Falar dele é um ritual diário diante de cada paisagem sob a esquina da vírgula, onde se toma um respiro para o engate de mais uma caminhada. Surge um olhar vestido em pulôver rosa, voz de aeroporto no embalo de um cigarro baforando que à noite todos os gatos são fados. É fato fadado à escrita de um destino, enfeite de vida comezinha.

à moda antiga

você acorda, meu querubim
dos teus sonos profundos
que sequer te dão o desfrute
de um sonhar mais intenso

você acorda, meu querubim
e não se lembra de nada
da minha mão sobre tuas asas
sorrindo pelo alçar do seu voo

você acorda, meu querubim
sem uma lembrança sequer
das tuas andanças noturnas
sobre minhas veredas d'alma

você acorda, meu querubim
sem qualquer preciso despertar

porque o meu amor enfim
é alimento de teus sonhos
em um sopro desperto de vida

sessão das duas

não se trata de terapia, baby
mas é bom esmurrar as palavras
esporrar sangue de vez em quando

cada qual com seu crime.

90 dias

A situação é bem simples: são pequenos pontinhos no obscuro vermelho, que só aparecem diante do toque, dando o ar da graça e alguma dor de cabeça. Ficam não querendo nada, somente o mergulho sobre as dobras dilatadas. Como se isso fosse pouco.

lapso

não adianta a lágrima vertida
por uma palavra mal feita
pra que serve tanta dor?
(que venha sorridente
um tiro de misericórdia)

domingo, março 14

swiss landscape

os domingos vazios e suas ruas
quando a vida desponta à sete
janelas espessas trilhas fechadas
percorridas pelo sussurro branco
de um verso coxo e desafinado

não importa se a vida matutina
é ora homem ora feminina
pois as horas se tornam prece
do teu sorriso meus passos
aquecendo aberturas mudando
rumos do lado de cá e de lá
despencando certezas sobre nós

que desatam e bifurcam

duas linhas

os olhos já não podem com o fundamental
com a xícara de leite que o todo derrama

sábado, março 13

noite

casais cigarros cervejas
botecos nos arcos cafés
na sexta um todo plural
(e o corpo insiste pulsar
teus outros atlânticos)

quinta-feira, março 11

[sem assunto]

o que lhe resta é passar a madrugada conversando com você, levantando perguntas, fazendo juras e mudanças de rumo, horas pensando qual é a melhor frase que te cabe sobre a tela, o que vestir diante de você mesmo que não veja, o perfume se irá gostar, o hálito tá ok ou precisa de uma pastilha de menta?
isso tudo pra refrescar a falta que faz.

overaction

que venha o derrame sobre todas as coisas que desejas transbordando
aquecendo teus passos sobre o branco e seus rastros que se derretem durante o dia
que venha o jorro violento de um todo querer sobre a flor de dois corpos de leite
sorvendo a dor sob a seiva da vida

ao vento

sim estou dizendo
elas não suportam
fogem no apertar dos dedos
são catadas como milhos
mas brincam de pular
diante dos seus olhos
mas ainda preciso
sou submisso a elas
pois não me deixam afastar
um minuto sequer
da ânsia de escrever
você

teoria do romance

acaba-se a luz e todo este blues vem na hora errada, cry like a river e emenda o soneto pior do que a encomenda
é a voz rouca babulciando palavras que não existem, pianíssimo ao fundo e todo o clichê de um moderato cantabile
o corpo esquenta a cama de um lado só enquanto duas xícaras esperam o café amanhã sobre a mesa

terça-feira, março 9

adição

falar é pouco
ler é pouco
comer é pouco
sentir é pouco
viver é pouco
ouvir é pouco
amar é pouco
morrer é pouco
escrever é pouco
é tudo este pouco
que eu quero mais

bang-bang

às vezes tem um espoco no oco da boca
aquilo que não se consegue dar nome
que não se faz enquanto coisa no mundo
fica em um terreno calado de terra batida
mas ainda pulsando, vocês sabem:
antes de terminar lá vem resposta certeira
acenando com um tiro
o peito seu peito do outro
antes de contar até dez
antes de chegar a unção extrema
de um beijo

after midnight

água com gás e a mesma de gim
misture com gelo e rodelas de limão
sapato italiano e terno de bom caimento
ajuste a gravata e ponha um long-play
para que seja longa a tua vinda
a nossa trilha em vida sonora

sábado, março 6

waterfall

Tem horas que não adianta billie diana dinah, não adianta uma vida e sua trilha incidental.
Resta acender o cigarro, abaixar a luz em choro baixinho.

primeiro vagão

Ele entrou no trem, um senhor passa mal, estrebucha vomita branco. Dizem que fora veneno e morre. Enquanto isso ele morre por dentro. Pra nunca mais voltar.

quarta-feira, março 3

cantilena

março marcha
é March marcado
riscado na folhinha
(amassa e assopra
pro tempo voar)

liturgia

já passam das três:
un thé au jasmin
na mais fina porcelana

óleo de algas marinhas
sobre a pele
sob uma camisa
com estampa de headphone

para beber seu corpo
e ouvir melhor
o teu mais sagrado
dentro de mim

mantra número 05

maio maio maio
o desmaio
de um mês
sobre todos
os dias

brinde

um traje completo
ao fundo Pink Martini

Campari Orange for you
Gin Tônica for me
tears for two

please, don't be cruel
mein Lebenspartner

tome minha mão
seja a tua dança
e viva

segunda-feira, março 1

uma notícia

azia e ânsia
cavalinhos platiplantos
na cerca do estômago
salte logo no market
salt sobre duas farfalle
passe na manteiga e voe
direto ao porto
aéreo desta tela